18 julho 2006

Guia de candidatura

Estamos outra vez naquela altura do ano em que os estudantes de todo o país se enchem de esperança, na expectativa de conseguirem entrar para o curso que desejam. Até porque só assim, para alguns deles, será possível chegar à profissão que tanto querem. E também só assim, para muitos mais, é possível sair de casa dos pais e passar uma meia dúzia de anos sem fazer o valor de um tostão, andar em paródias e coboiadas e mesmo assim ser visto pela famelga e amigos como intelectual.

Mas no nosso sistema educativo há falhas (Jura?). Existem profissões que não são alvo de encaminhamento e apoio por parte do nosso governo. Nomeadamente, a profissão mais antiga do mundo.

Sim, é das profissionais do sexo que vos falo. O nosso governo bem se pode preocupar com OTA's e TGV's, com a redução do défice, com as explosões das torres de Tróia... mas a dura realidade, caros companheiros, é que enquanto não houver atenção sobre estas valerosas profissionais, o nosso país nunca será realmente desenvolvido.

Mais uma vez, a nação irmã e superdesenvolvida que é o Brasil dá-nos uma lição. Sim, porque pode não haver educação em termos, alojamento ou alimentação...
...mas pêgas, meus amigos, pêgas nunca hão-de faltar ao país do samba. E as Juracis podem ter a certeza que o governo estará sempre lá para apoiar a sua cruzada.

Pois é, o MTE (Ministério do Trabalho e do Emprego) do Brasil apresenta um quadro com as competências profissionais que são exigidas a uma profissional do sexo, código 5198. Porque nem toda a gente tem o que é preciso para ser uma profissional do sexo, convenhamos. Assim, numa lista de 18 tópicos, são descritos os requisitos essenciais à prática desta profissão.

Eu gostaria de vos mostrar alguns deles, e nomear a sua natureza:

1.Demonstrar capacidade de persuasão
3.Demonstrar capacidade de realizar fantasias eróticas
7.Prestar solidariedade aos companheiros
15.Proporcionar prazer
16.Cuidar da higiene pessoal
17.Conquistar o cliente
18.Demonstrar sensualidade


Este primeiro grupo é composto por aqueles que são, talvez, os requisitos mais de senso comum. Embora eu goste de pensar que estes tópicos sejam usados de forma global, para outras profissões, nomeadamente os números 3,15 e 18. Por exemplo, no caso das secretárias. O tópico 16 teria sido de grande utilidade a Bill Clinton, se assim fosse.

4.Agir com honestidade
6.Planejar o futuro
9.Demonstrar capacidade lúdica
12.Demonstrar ética profissional
13.Manter sigilo profissional
14.Respeitar código de não cortejar companheiros de colegas de trabalho


Este grupo é algo mais estranho. Sinceramente, os números 12,13 e 14 levam-me a pensar que existe uma espécie de código deontológico nesta profissão, algo que nunca imaginei. Mas faz todo o sentido... se existe a Ordem dos Médicos, porque não a Ordem das Pêgas? Quem será a bastonária, a Cicciolina? Faz todo o sentido, se virmos bem, devido ao seu background político. Já os tópicos 6 e 9 me parecem francamente deslocados... se bem que ludicidade é um conceito tão definido como "coiso".

2.Demonstrar capacidade de expressão gestual
5.Demonstrar paciência
8.Ouvir atentamente (saber ouvir)
10.Respeitar o silêncio do cliente
11.Demonstrar capacidade de comunicação em língua estrangeira


Ó-quei, aqui já estamos a abusar um bocado. Estas normas já são, vá lá, ai qual é a palavra que me falta... parvas. É isso mesmo, parvas.
Realmente faz todo o sentido, para a Marília Janette que faz serviços à beira da estrada em Estremoz, ter uma porra de um curso em expressão gestual. Ou será que levantar a saia e estender a perna é "capacidade de expressão gestual"? Demostrar paciência? Realmente, depois de passar os 10 minutos contratados, é melhor esperar qualquer coisa, isto da solidariedade é importante, realmente. E tenho também a certeza que é preciso ser muito boa ouvinte quando se está no acto. Aliás, consta que grandes e importantes discussões em torno de Max Ernst se dão na recta de Albergaria, e as pêgas têm de saber ouvir. E também respeitar o silêncio.

Mas a minha preferida só pode ser a capacidade de comunicação em língua estrangeira. Eu penso que cá em Portugal não temos de nos preocupar com isto, uma vez que as pêgas começam a ser um verdadeiro centro de línguas. Aprende-se búlgaro, ucraniano, romeno. E a utilidade que isto tem. Já não estamos no tempo em que para se ser prostituta era preciso não ter qualquer tipo de amor próprio. Agora, as pêgas precisam de um curso superior. E com o Processo de Bolonha, eu diria mesmo que um Mestrado começa a ser mesmo uma necessidade.

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